Nasceu o rio Lis junto a uma serra
No mesmo dia que nasceu o Lena;
Mas com muita Paixão, com muita Pena
De seu berço não ser na mesma Terra.
Andando, andando alegres, murmurantes,
Na mesma direcção ambos corriam;
Neles bebendo, as aves chilreantes
Cantavam esse amor que ambos sentiam
Um dia já espigados, já crescidosContrataram casar, de amor perdidos
Num Domingo, em Leiria de mansinho...
Mas Lena, assim a modo envergonhada
Do povo, foi casar toda enfeitada
Com o Lis mais abaixo um bocadinho.
Marques da Cruz
1888-1958
Este soneto inspirou, de forma magnífica,
o professor e artista Augusto Mota, que nos anos 60, já gozava de um grande prestígio na região e além fronteiras, num trabalho de grande beleza, simplicidade e sensibilidade, num beijo celebrado entre o Lis e o Lena, envolto pelos verdes e sussurrantes pinheiros, sob o olhar do sol, rubro de vergonha perante tanta intimidade, só testemunhado pelas “aves chilreantes”, com o castelo, ao longe, a abençoá-lo.
O poeta José Marques da Cruz nasceu em Famalicão (Cortes) a 15 de Novembro de 1888,
e faleceu a 23 de Abril de 1958.
Formou-se em Coimbra, em1912, onde frequentou a Faculdade de Direito.
Passando a residir em S.Paulo, aí se dedicou ao magistério secundário e superior.
Foi professor em vários estabelecimentos de ensino.
Também se consagrou às letras, pelo que deixou publicadas numerosas obras em prosa e
em verso.
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